
Quem encobrirá meu sono?
Beijará quem minhas costas no cotidiano?
Quem, no meio do frio, me cobrirá com lindas orelhas
e me dirá palavras indecentes nos ouvidos?
Quem, atrevido, me acordará com o ponteiro em riste
como um pássaro que não quer tudoapenas o céu, a gaiola, o alpiste?
Quem que, quando eu dormisse, por mim zelasse
e eu, quando acordasse, lhe fizesse iogurtes brejeiros
massagens nos pés, cumplicidades de enlace?
Quem me agarrará por trás quando eu sair cheirosa do banho
e terá orgulho de eu ser guerreira e perfumada ao mesmo tempo?
Quem em bom senso dirá que muito me assanhoquem orientará a guerrilha diária a
que me proponho
quem será inteligente e gostoso a meu lado como está no meu sonho?
Quem, a quem me disponho a cozinhar e fazer versosquem racional e perverso
cochichará nos tímpanos da minha almaa doce ordem, a venal palavra: Calma?
Quem com sua alma me mostrará um mar vertical?
Quem, meu igual, me apontará andores reais, sem excesso de glacê no bolo
Com determinação de touro e a nobreza de poder ser banal?
Quem, coisa e tal, me beijará a boca e me enfiará as mãos
por debaixo da barra do segredo do vestido e um dia passeará comigo no segredo
contido na Barra do Jucu?
Quem, senão tu que eu elejo, eu planejo, pode habitar o lugara suíte que há tanto
tenho reservado?
Quem, encomendado, pode me manter na confiança dos edredonsenquanto não
chega?
Quem, com certeza, me visitará num outubourbon no gume da lirade eu ser égua,
cadela, mulher e sua?
Quem sobre mim sua, pinga, chove?
Quem que com lucidez resolve o abismo simples de prever o risco de sonharpra nele
mesmo cair, rire se embolar?
Quem me dará a idéia de conceber a saudade no sentido tático
quem, não estático, de longe me fará cometer poemas de meia-noite?
Quem, sem favor, me estende o braço com rosas na mãocom explicação pro meu
calor?
Quem, senão meu doido bondinhomeus olhos acesinhos, meu comedor...
Meu triz, meu risco
meu cristo redentor?
SAUDADES