Saudades...
Esses dias estava conversando com um amigo a respeito da infância, uma etapa tão boa da vida, a mais importante delas. Lembrei de tanta coisa boa em frações de segundos, coisas como; os puxões de cabelos nas amiguinhas, das bolinhas de papel crepom pra contornar letras na pré-escola (detestava aquilo), da sainha rodadinha do tempo da Lambada (lembram-se disso??), das corridas em carrinho de rolimã, do lanche de pão com mortadela e Baré, das lutas por doces em dia de São Cosme e Damião, dos cabelos repicados que faziam a cabeça das mulheres, de dormir junto da minha mãe e meu irmão, de aprender dançar ficando em cima do pé da minha tia, do meu primeiro amor aos sete anos, de ser sonâmbula e deixar minha mãe em pânico, de pular elástico, acreditar que nascia um pé de melancia na barriga por engolir seus caroços, e tantas outras coisas, passaria dias relatando!
Mas acreditem, do que mais sinto saudades são das minhas férias na casa do meu avô! Adorava aquilo, todo final de ano munidos de muitas caixas, sacolas e malas, íamos passar férias no interior.Era o mês que realmente aprendia a viver, me sentia parte do mundo.
Escutava as histórias do meu avô e me realizava, livro algum se comparava com aquilo, ele era parte integrante da história, e ela nunca se iniciava com um ? Era uma vez.... Andava descalça pelo quintal, tomava banho de chuva, subia em arvores, corria atrás dos porquinhos (maldade pura). Adorava as Festas de Reis, as cantorias caboclas, o leite fresco com farinha, a tapioca da vovó, os doces caseiros, tomar banho em açude, fazer bonecos de barro, pisar na lama e a sentir fazendo escleshe entre os dedos, ser tratada como uma criança que podia e devia aproveitar a vida.
Lembro-me e tenho saudades do céu naquela época, lindo, imenso, e muito, muito estrelado. Nunca vi nada igual, deitava no quintal e o céu parecia que queria me tomar para si. Ficava ali traçando planos e projetos de como seria minha vida quando adulta. Tenho saudades daquele céu, tenho saudades da simplicidade. Tenho medo do mundo em que meus filhos viverão, tenho pena deles por não terem conhecido as histórias do meu avô, não terem visto o céu como vi, escutados os pássaros como escutei, e tão pouco infância como a que tive.